segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Cremações e uso de urnas biodegradáveis estão ganhando terreno e em Lisboa já são mesmo a opção mais usada nos funerais


O número de portugueses que opta pela cremação dos familiares que morrem está crescendo e, em Lisboa, já ultrapassa mesmo a opção pelos funerais que incluem o enterro do corpo. Segundo o presidente da Associação Nacional de Empresas Lutuosas, Nuno Monteiro, no ano passado a taxa de cremações na capital rondou os 53 por cento, enquanto no resto do país está nos cinco a oito por cento. A explicação, diz Nuno Monteiro, está na menor oferta do serviço fora das grandes cidades. "No resto do país, apesar de haver mais fornos crematórios, ainda há locais que não os têm. Por exemplo, quem está em Vila Real tem que ir ao Porto", explica.
A deslocação não só encarece o serviço como retira significado ao momento, uma vez que implica sair do local de origem do falecido. Apesar disso, o número de fornos crematórios também aumentou, havendo neste momento 14 em funcionamento em todo o país. "Em 2008 havia quatro", sublinha o diretor comercial da agência funerária Servilusa, Paulo Carreira. Amanhã é dia da habitual romaria aos cemitérios para depositar flores nas campas e assim homenagear os mortos, um ritual que se repete todos os anos na véspera do Dia dos Fiéis Defuntos.
Nuno Monteiro diz que a cremação não só é mais económica como ajuda as pessoas a porem um "ponto final".
"Na maioria dos casos as sepulturas são temporárias e, normalmente, ao fim de cinco anos é preciso retirar os restos mortais - a exumação , colocá-los num ossário, numa sepultura perpétua ou optar pela cremação. E a exumação é um processo complicado para alguns familiares, já que implica reviver o processo de luto", nota.
Além disso, a sepultura exige manutenção e hoje em dia há cada vez mais pessoas vivendo longe da sua cidade natal. Anselmo Borges, padre e docente da Universidade de Coimbra, também admite que haja "menos enraizamento das pessoas devido ao cosmopolitismo".
E significa este aumento da cremação, que a Igreja Católica aceita desde a década de 1960, uma nova forma de encarar a morte? Anselmo Borges acredita que, no Ocidente, a cremação está mais ligada a uma atitude de "terminou, acabou tudo", do que aos significados de outras tradições, como as orientais, em que a cremação é a purificação pelo fogo, o elemento que "ilumina e transfigura".

Cemitérios "caóticos"

Ainda assim, não acredita que a diferença no número de cremações em Lisboa e no resto do país se deva apenas ao maior ou menor acesso aos fornos: "No Norte, mesmo que houvesse mais possibilidades, não aconteceria tanto, porque ainda há uma ligação à terra - até pela agricultura - e à religião. E a Bíblia diz "vens da terra e à terra voltarás"."
Em Lisboa é diferente: "É a única cidade verdadeiramente cosmopolita em Portugal", defende. Na capital, em 1997, houve 846 cremações; no ano passado foram 4551 - um aumento de 434 por cento.
Curiosamente, nota Paulo Carreira, após a cremação do corpo, uma das principais escolhas dos familiares para as cinzas é uma "urna de cinzas biodegradáveis", que inclui um reservatório com terra e sementes, através da qual nasce uma árvore.
"É a tal ligação à terra. E, neste caso, há um renascimento", nota Anselmo Borges.
O docente acredita também que as questões relativas à "higiene" e ao "espaço" devem ser relevadas, alertando para a "confusão" existente nos cemitérios. "São muito caóticos. Nos Estados Unidos há relvados. Na Alemanha também. São lugares com árvores, com bancos, que convidam à meditação, à reflexão", descreve. Paulo Carreira subscreve a ideia: "Significativa parte das pessoas que opta pela cremação não tem grande apetência pelo culto do cemitério. As novas gerações não estão muito receptivas a prestar homenagem aos falecidos nos cemitérios, espaços que estão sobrelotados e desordenados."



Fonte:http://www.publico.pt

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