Além de valorizar a aparência de uma fruta ou hortaliça, a embalagem certa ajuda o produtor a reduzir perdas significativas no pós-colheita - para se ter ideia, no Brasil, por ano, de 30% a 35% da produção anual de frutas, legumes e hortaliças é descartada. Melhor ainda se essa embalagem tiver um apelo ecológico e for não apenas reciclável, mas biodegradável ou retornável.Em busca dessa embalagem ideal, que preserve ao máximo o alimento e ainda seja sustentável do ponto ambiental, a Embrapa Agroindústria de Alimentos, do Rio, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Instituto Nacional de Tecnologia (INT), deu início, este mês, a uma ampla pesquisa sobre novas tecnologias e materiais para a confecção de embalagens inteligentes para frutas e hortaliças.
Dentro do projeto Desenvolvimento de embalagens valorizáveis para o acondicionamento de frutas e hortaliças frescas, a pesquisa irá testar o uso de resíduos agrícolas na fabricação dessas embalagens. O objetivo é verificar se esses resíduos - que constituem matéria-prima abundante - atendem às necessidades de armazenamento, transporte e comercialização de frutas e hortaliças, mantendo a qualidade e a segurança dos produtos.O projeto, de R$ 7,5 milhões, foi aprovado em dezembro pelo Fundo Tecnológico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Funtec/BNDES).
"Além do componente de pesquisa, para ser aprovado pelo Funtec o projeto deve ter o componente de negócio e inovação. Vamos trabalhar no desenvolvimento de embalagens inteligentes e, a partir daí, o mercado poderá se abrir", explica o químico Antonio Gomes Soares, pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos.Segundo Soares, diagnósticos já identificaram os principais problemas na área de embalagens. Caixas de madeira (caixas K), que são anti-higiênicas e danificam o produto por serem ásperas, ainda são muito usadas. A caixa de papelão e de plástico têm a limitação do formato, que não serve para todos os tipos de frutas e hortaliças. "Vamos juntar os esforços da Embrapa, do Laboratório de Reciclagem da UFRJ e da Divisão de Desenho Industrial do INT para propor soluções efetivas com o uso de novos materiais e processos.
A ideia é reduzir perdas e manter a qualidade do produto, com embalagens resistentes e seguras", diz o pesquisador.Outro foco da pesquisa, fora o aspecto da segurança e sustentabilidade, é chegar a uma embalagem que possa ser usada desde a colheita, no campo, até o consumidor final. "Isso significa evitar o que chamamos de retrabalho, que é trocar de recipientes várias vezes, do campo à packing house", explica o doutor em Design Luiz Carlos do Carmo Motta, da Divisão de Desenho Industrial do INT. "Quanto menos o produto for manuseado, mais preservado ele permanece."
RESÍDUOS
A pesquisa irá testar a viabilidade do uso de resíduos da bananeira, do mamoeiro e do palmito pupunha, que produzem grande quantidade de "matéria-prima", para a fabricação de embalagens. "Do palmito, aproveita-se só uma pequena parcela, de mais ou menos 30%; o resto vai para o lixo. As áreas de mamão e banana precisam ser renovadas periodicamente e as plantas cortadas não têm aproveitamento. Fora folhas e partes do caule que caem no solo e viram cobertura morta", explica Soares."Primeiro, vamos estudar a caracterização das fibras desses resíduos e avaliar os produtos conforme tamanho, formato e calibre. Aí poderemos criar parâmetros para o desenvolvimento das embalagens", diz Motta.
A segunda parte do projeto inclui o desenvolvimento de novos materiais, no Instituto de Macromoléculas da UFRJ, e a apresentação de protótipos, pela Divisão de Desenho Industrial do INT. "Em 30 meses, devemos ter as embalagens já testadas", prevê Soares. "Depois, podemos repassar a tecnologia para empresas de embalagens. Como não há uma indústria envolvida, garante-se a competitividade do mercado."
RENDAS
Se der certo, a confecção de embalagens com resíduos agrícolas pode também se tornar uma nova opção de renda para produtores de banana, mamão, pupunha e outras culturas que venham a ser testadas pela pesquisa. Por enquanto, o trabalho será feito com produtores de mamão do Espírito Santo, bananicultores do Rio e produtores de pupunha do Paraná e do Rio. "Um resíduo que ia para o lixo passa a ter um valor de mercado", diz Soares, da Embrapa.A vantagem de uma embalagem "ecológica", segundo Motta, é que ela pode atender ao mercado europeu.
"A União Europeia define como valorizáveis embalagens sustentáveis, que não gastem energia nos processos. Por isso os europeus preferem embalagens retornáveis a recicláveis.""Conforme o processo que for desenvolvido pela pesquisa, o produtor pode se tornar também um fornecedor de matéria-prima para a indústria ou um fabricante de embalagens", acredita Motta.